quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Programete 49: Imprensa Alternativa – Lampião


No final da década de 70, a Ditadura Militar demonstrava os primeiros indícios de desgaste. Era o começo da abertura política. Estudantes tomavam as ruas para exigir a anistia dos presos e exilados políticos. Os setores oprimidos da sociedade fortaleciam sua organização. Os ideais da contracultura norte-americana e da revolução sexual ganhavam mais espaço na sociedade. 

Nesse contexto surge, em 1978, no eixo Rio-São Paulo, o jornal Lampião da Esquina. Ele tinha o objetivo de dar espaço à luta de minorias e centrou enfoque nos homossexuais. A ideia do periódico mensal surgiu por influência da revista norte-americana Gay Sunshine. Vários intelectuais e artístas reuniram-se para criar o periódico, destaca-se o conhecido escritor de novelas Aguinaldo Silva. 

A edição experimental, chamada de edição zero, saiu em abril de 1978 e declarava: 

“Lampião deixa bem claro o que vai orientar a sua luta: Nós nos empenharemos em desmoralizar esse conceito que alguns nos querem impor – que a nossa preferência sexual possa interferir negativamente em nossa atuação dentro do mundo que vivemos.” 

A visão do jornal era de que os homossexuais eram iguais aos outros cidadãos, nem inferiores nem superiores e deveriam assumir posições e lutar. Ouçamos dois trechos: 

“Informe-se, ache uma maneira de atuar no mundo em que vive, e deixe de ter pena de si mesmo. Se você não falar do seu problema, o seu problema não existe.” 

“Infelizmente, a sociedade machista é dona do mundo. E esta situação não sofrerá mudança enquanto não partirmos para ação. Há um trabalho difícil, árduo a ser realizado por todos.” 

O Lampião era caracterizado pelo sarcasmo, indignação e acidez na crítica à hipocrisia da sociedade e incitava a mobilização de seus leitores. O formato era de tabloide. Havia seção de cartas dos leitores, noticias e reportagens. A partir do número cinco, criaram a coluna “Bixórdia” que narrava situações cotidianas do contexto homossexual. 

Os temas eram polêmicos como “igreja e homossexualidade”, “casamento gay”, além de “assuntos eróticos”. O Lampião também trazia entrevistas e informações culturais, como dicas ou críticas de filmes, livros, shows e exposições. A produção era feita pelos conselheiros e por colaboradores que podiam variar a cada edição. 

Com o passar dos meses, o Lampião da Esquina foi mudando seu teor politizado e reivindicador, começou a ceder espaço para elementos mais comerciais, sua linguagem ficou mais apelativa e informal. 

Ensaios sensuais de homens nus passaram a ser comum no jornal, sendo que em sua primeira edição o editorial afirmava: “Quanto às fotos de rapazes nus, não é o nosso gênero”. As matérias passaram a ser cada vez mais relacionadas a temas eróticos. 

Bernardo Kucinski, em seu livro “Jornalistas e revolucionários”, afirmou: “Lampião da Esquina começou elegante e terminou pornográfico”. 

O jornal somou 38 edições e mais 3 extras, e chegou ao fim em junho 1981 gerando um vazio ideológico na defesa pelos direitos dos homossexuais. Lampião da Esquina não era o único com esse caráter, mas era o mais significativo, tinha uma distribuição nacional com média de 20 mil exemplares. 

Aos interessados: informamos que o centro de Documentação Professor Doutor Luiz Mott digitalizou todas as edições de Lampião da Esquina e as disponibilizou ao público no site www.grupodignidade.org.br.

Texto: Marina Fontanelli
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

Programete 48: Imprensa Alternativa – O Pasquim


Em junho de 1969, a ditadura militar governava com plena autoridade, vigoravam o AI-5 e a Lei de Segurança Nacional. Os jornais eram censurados e ameaçados, pessoas eram presas ilegalmente e mortas. Apesar do cenário adverso, um grupo de jornalistas cariocas resolveu criar um jornal livre, irreverente, divertido e alternativo à grande imprensa. 

O grupo era chamado de a patota. Ele não se considerava uma empresa, não havia editores na redação, não havia chefia, cada um escrevia como queria. Era uma forma não burocrática de organização. A primeira edição saiu no dia 26 de junho de 1969 com baixa tiragem. Naquele momento, participavam Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Carlos Prósperi e Claudius Inicialmente, Jaguar havia imaginado o projeto como um jornal para o bairro de Ipanema do Rio de Janeiro. Porém, a visão crítica e inovadora passou a ser compartilhada por jovens de todo o país. Com quatro meses, a patota comemorava a tiragem de 100 mil exemplares e, em menos de um ano, o número de 225 mil exemplares. 

O sucesso era extraordinário. O Pasquim revolucionou a linguagem impressa, escrevia como se falava em Ipanema. A oralidade passou a ser marca registrada do jornal, palavrões eram permitidos e neologismos como “putsgrilla” e “sifú” foram incorporados no cotidiano dos leitores. O formato tablóide também era inovador para época. Nomes como Millôr Fernandes, Fortuna, Sérgio Augusto, Ziraldo, Henfil, Ivan Lessa, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel aderiram ao grupo, além de muitos outros colaboradores famosos como Moacyr Scliar, Chico Buarque, Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

O jornal trazia uma grande entrevista, na maioria das vezes, com personagens de oposição ao governo, músicos, artistas ou intelectuais; trazia também: os artigos corrosivos de Paulo Francis; as charges do rato Sig, criação de Jaguar em referência a Sigmund Freud; as tiras do chopnics, mistura dos beatniks com chopps. 

No início, O Pasquim não era um jornal propriamente político, era um jornal de deboche, de contestação, indignado com o conteúdo dos outros jornais. O Pasquim era alternativo à cultura de ordem e à cultura oficial de esquerda. Apresentava os novos valores da juventude, da contracultura e defendia a liberdade total do individuo. 

Apesar de ser considerado um símbolo da liberdade de expressão, outros periódicos alternativos o acusavam de machista e falsamente libertário na questão da homossexualidade, uma das razões da crítica era os frequentes deboches com feminismo. 

Em março de 1970, foi colocada uma bomba na sede do jornal, que felizmente não chegou a explodir. Os jornalistas entenderam como uma represália à entrevista com Leila Diniz que falou abertamente sobre sexualidade. Em junho, do mesmo ano foi instaurada a censura prévia. Os humoristas se utilizavam de divertidas estratégias para tentar driblar a censura. E em PRIMEIRO de novembro, os policiais do DOI-CODI invadiram a redação e prenderam quase todos os jornalistas presentes. E durante dois meses o jornal saiu devido ao trabalho de colaboradores. 

Até 1975, a censura prévia controlou e dificultou os trabalhos. Com isso, as vendas caíram e as dificuldades financeiras aumentaram. O modo anárquico de administração também trouxe atritos e prejuízos. Os membros foram lentamente deixando o jornal. Ficaram no controle Ziraldo e Jaguar até 1982. 

Nessa data, Ziraldo saiu. E no decorrer da década de 1980, a tiragem foi minguando sob domínio de Jaguar. Em 1988, ele vendeu o jornal que já não tinha expressão. Publicava apenas três mil exemplares. Foi uma morte lenta até o fechamento, no início da década de 90. O Pasquim ajudou a propagar uma mudança comportamental no país. Também inspirou outros jornais alternativos. Paulo Francis disse: “O jornal era uma brincadeira num tempo triste”. Os tempos mudaram e o jornal também.

Texto: Marina Fontanelli
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

Programete 47: Imprensa Alternativa – O Movimento


No dia 7 de julho de 1975, o BRASIL viu nascer o semanário O MOVIMENTO. Durante seis anos de existência, o jornal lutou contra a ditadura e assumiu, ao lado do OPINIÃO e do O PASQUIM, o papel de porta-voz do movimento democrático que se opunha ao regime militar. Posição que lhe garantiu um lugar entre os mais importantes veículos de comunicação da história da imprensa brasileira. 

O MOVIMENTO surgiu a partir do trabalho de um grupo de jornalistas que havia se desligado do jornal OPINIÃO após o afastamento de RAIMUNDO RODRIGUES PEREIRA de sua direção. Da antiga publicação, eles mantiveram a ideia de constituir um órgão de imprensa gerenciado de forma coletiva por seus profissionais, sem a existência de um patrão. Assim como a necessidade de afirmar uma forte e explícita posição política independente. Visava também ser acessível e lido pelo povo. 

O jornal buscou agregar diferentes segmentos da sociedade brasileira que lutavam contra a ditadura. Ele representava as vozes dos operários, dos camponeses, dos grupos de esquerda ilegais e clandestinos, da Igreja progressista e dos intelectuais críticos do sistema político. Suas páginas defendiam a formação de uma frente ampla e unida contra a ditadura. 

Dando um passo a mais em relação a outras publicações surgidas na época, o jornal apresentava matérias que não se intimidavam diante de seu compromisso editorial de defender a liberdade democrática, a redemocratização do país, o fim das leis de exceção, os interesses nacionais contra as forças estrangeiras, a instauração de uma Assembleia Constituinte e a anistia. Outro viés importante era “a luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores”. 

Reunindo profissionais como RAIMUNDO PEREIRA e DUARTE BRASIL PACHECO na direção, a publicação trouxe uma nova cara para o jornalismo brasileiro. O periódico adotou um rigoroso processo de investigação e apuração jornalística, a independência econômica e política, e aliou talento e grande experiência de seus jornalistas. Com isso, ele influenciaria toda uma geração. 

O jornal enfrentou vários problemas: a censura prévia que reduzia e anulava os textos, baixa qualidade gráfica decorrente da rapidez na preparação, a leitura pesada por valorizar em demasia o conteúdo político, prejuízo financeiro constante, debates e disputas internas em torno de doutrinas políticas divergentes, posições partidárias sobrepondo-se ao jornalismo. Apesar dos problemas, o MOVIMENTO atuou num dos mais importantes momentos da história brasileira, até sua extinção em 1981. 

Enquanto o Brasil conquistava a reabertura política, o periódico colaborou com o alargamento dela, sofreu muito com a sua radical atuação e não resistiu. Mas sua mensagem já havia se eternizado e consolidado a história do jornal. No último número, ele ainda anunciava o princípio que vinha desde o início, ser “democrático e popular, independente e pluralista”.

Texto: Ana Carolina Costa
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

Programete 46: Imprensa Alternativa - OPINIÃO


O jornal OPINIÃO foi uma das mais influentes publicações da imprensa alternativa brasileira, nos anos 70. O financiamento veio de FERNANDO GASPARIAN. Empresário, e amigo de vários renomados intelectuais, Gasparian havia apoiado o governo de João Goulart e exilara-se na Inglaterra voluntariamente após o golpe de 1964. 

Semanal, OPINIÂO surgiu em outubro de 1972, num período em que a repressão do REGIME MILITAR se intensificava com a censura dos órgãos de imprensa do país. Seu objetivo era enfrentar esse cenário, oferecendo ao público um jornalismo crítico e analítico. Logo, consolidou-se como um marco de qualidade e inovação no jornalismo brasileiro. O sucesso deve-se a vários fatores, um deles foi ter na direção jornalista RAIMUNDO PEREIRA. O jornalista já havia trabalhado nas revistas Veja e Realidade, e no jornal Folha da Tarde. 

Por trás do periódico havia uma articulação entre o PC Do B e a AÇÃO POPULAR. O PARTIDO COMUNISTA DO BRASIL acreditava na guerra popular como forma de derrubar o governo ditatorial. O movimento político de esquerda denominado AÇÃO CATÓLICA apostava na necessidade de se criar um jornal não-partidário para estimular uma frente de oposição ao regime. Ideias que se uniram em torno do OPINIÃO, convertido em porta-voz dessa luta. 

Temas a cerca da realidade brasileira dominavam o jornal através de reportagens, ensaios, comentários, charges, ilustrações ou fotografias. No conteúdo havia cobrança por uma melhor distribuição de renda no país, a defesa da economia nacional, dos direitos humanos e do meio ambiente, valorização dos trabalhadores na sociedade, debates sobre destinos possíveis da sociedade brasileira, reflexões sobre a cultura e a inserção do Brasil no mundo da época. Uma das maiores bandeiras da publicação era a defesa ampla das liberdades democráticas e o fim da ditadura. 

Com uma diagramação elegante, capas marcantes e um conteúdo altamente crítico e bem escrito, o OPINIÃO atraiu a colaboração de um considerável número de profissionais da grande imprensa nacional. Muitos deles mandavam textos gratuitamente, desde que publicassem sem identificação. Objetivo era poder participar daquela experiência ousada. O jornal também deu espaço aos intelectuais que perdiam prestígio diante das imposições da ditadura, por exemplo, Fernando Henrique Cardoso. Dentre os chargistas destacaram-se Elias Andreato, Chico e Paulo Caruso. Projetou novos profissionais como AGUINALDO SILVA e TÁRIK DE SOUZA. 

O OPINIÃO sofreu com a censura prévia, conviveu com divergência políticas internas e com problemas financeiros. Também havia discordâncias entre FERNANDO GASPARIAN e sua equipe em torno da melhor forma de administração e condução do periódico. Diante de tantos problemas, o OPINIÃO foi fechado em 1977, mas não tirou da publicação o posto de um dos primeiros e mais importantes jornais de crítica e combate à ditadura militar no BRASIL.

Texto: Ana Carolina Silva
Apresentação: Giovani Vieira e Jaqueline Casanova

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Programete 45: A censura e a imprensa no pós 64


Quando ocorreu o golpe de 1964, poucos jornais publicaram discordâncias ao evento. A grande imprensa apoiava o movimento civil-militar e era contra o governo João Goulart. Por isso, nos primeiros anos de ditadura, poucos veículos fizeram críticas aos militares. O jornal Correio Carioca foi o mais conhecido por criticar a ditadura no período de 1964 a 1967. O motivo dessa discordância não partia de ideologias políticas, dava-se em nome da liberdade de expressão e de publicação. 

Desde o início os militares criaram mecanismos de controle dos meios de comunicação. O objetivo era censurar a informação veiculada e evitar que circulassem posições críticas ou discordantes ao governo. A intenção era dar à população a sensação de unanimidade e tranqüilidade. 

Alguns autores dividem a censura em dois tipos, uma delas foi denominada de auto-censura. Nesse tipo, os policiais e os censores davam ordens por telefone, entregavam bilhetes orientando os assuntos, acontecimentos e nomes que não podiam ser publicados. Uma das regras era não citar a existência da censura. Os textos que mencionavam o controle eram impedidos de ser divulgados. 

A questão desse tipo de censura é que o controle do que ia ser publicado ficava à cargo das redações. Era o editor e o redator que fiscalizavam a produção e os textos evitando descumprir as normas. Os profissionais sofriam pressões de vários tipos: ameaças de agressão física e de prisão. Já o jornal podia perder seus anunciantes. O governo poderia cortar a publicidade oficial nos veículos. Muitas vezes, ameaçava os anunciantes privados. Uma empresa privada deixou de anunciar num jornal alternativo ao receber a promessa de obter financiamento do BNDS. 

Muitos jornais submetiam-se à regras censórias por medo e conveniência. Outros concordavam com o governo e suas políticas autoritárias. Aqueles que ousaram discordar sofreram forte censura. Os principais veículos censurados previamente foram: 

O Estado de S. Paulo, entre 1972 e 1975 e a revista Veja, entre 1974 e 1976; 

Os alternativos: O Pasquim, de 1970 a 1975, Opinião, de 1973 a 1977 e Movimento, de 1975 a 1978 e o jornal da Igreja Católica paulista denominado de O São Paulo, de 1973 a 1978. Esses veículos sofreram muitos desgastes. Todos os textos eram revisados pelos censores. Algumas matérias eram mutiladas e perdiam o sentido, outras eram vetadas, muitas precisavam ser rescritas. No Estado de S. Paulo, o censor ficava na redação e a tensão era contínua. Nos outros casos, o material pronto era enviado para a Polícia Federal. Até voltar, o trabalho ficava parado. Algumas vezes, o produto era enviado para Brasília e a resposta demorava dias. Esses procedimentos quase inviabilizavam o trabalho. Os jornais Opinião e o Movimento não resistiram e fecharam as portas. Apenas a partir do início dos anos 1980 o controle prévio da imprensa foi amenizado.

Texto: Célio J. Losnak
Apresentação: Jaqueline Casanova e Marina Fontanelli

Programete 44: A imprensa e o Golpe de 1964


O golpe de 1964 desencadeado pelas forças armadas não foi resultado apenas da ação dos militares. Diversos setores da sociedade civil participaram das conspirações contra o governo João Goulart. Desde 1961 já havia grupos organizados para fazer oposição com intenções de usar estratégias antidemocráticas e até ilegais. Grande parte da imprensa brasileira compartilhou do pensamento que o comunismo iria dominar o país e defendeu o golpe por considerar que estava ajudando a salvar a democracia. 

Um exemplo foi a atuação da Folha de S.Paulo. As notícias do ano de 1964 indicam o apoio do jornal à ação dos militares. No dia vinte de março foi noticiada a ocorrência da Marcha da Família ocorrida no centro de São Paulo. Ouça o primeiro parágrafo da matéria que tinha como título São Paulo parou ontem para defender o regime. 

A disposição de São Paulo e dos brasileiros de todos os recantos da pátria para defender a constituição e os princípios democráticos, dentro do mesmo espírito que ditou a revolução de 32, originou ontem o maior movimento cívico já observado em nosso Estado: “Marcha da Família com Deus, pela Liberdade”. 

Outro exemplo semelhante foi a atuação do jornal Estado de S.Paulo. Júlio de Mesquita Filho, o seu diretor, reunia-se com outros empresários, profissionais liberais, intelectuais e com militares para planejar o golpe. A atuação do empresário deu-se fora e dentro das redações. 

No dia Quatorze de março de 1964, o diário noticiou o comício de João Goulart ocorrido no dia anterior em frente à estação Central do Brasil no Rio de Janeiro. Um dos títulos dizia: Foi farto o material subversivo no comício. A matéria destacou a presença de trabalhadores, sindicalistas com faixas e cartazes defensores de propostas comunistas, nacionalistas e estatizantes. 

No dia vinte de março de 1964 o jornal estampou o título Enquanto há liberdade, embaixo havia imensa foto da Marcha da Família também noticiada pela Folha de São Paulo. A legenda da foto dizia: 

Meio milhão de paulistanos e de paulistas manifestaram ontem em São Paulo, no nome de Deus e em prol da Liberdade, seu repúdio ao comunismo e à ditadura e seu apego à Lei e à Democracia. Neste momento particular da vida do mundo, o histórico ato dos paulistas adquire importância internacional. 

No dia primeiro de abril o Estado de S.Paulo continha títulos defendendo e explicando as justificativas do golpe, um deles, afirmava: São Paulo e Minas Levantam-se pela lei, Era preciso assegurar a legalidade, diz Magalhães Pinto. Anos depois, a Folha mudaria o posicionamento apoiando movimento de oposição e de abertura. A partir de 1968, O Estadão resistiria à censura da imprensa feita pelos militares. Ambos tentaram apagar da memória social a responsabilidade de ter apoiado o golpe e rompido como os preceitos da democracia. Não podemos nos esquecer disso.

Texto: Célio J. Losnak
Apresentação: Jaqueline Casanova e Marina Fontanelli

Programete 43: A morte de Vargas e a Imprensa



O segundo governo de Getúlio Vargas sofreu intensa oposição dos setores mais conservadores da sociedade. Inclusive da grande imprensa. Ele foi eleito pelo voto direto com a proposta de ser representante das classes populares. Grupos ligados ao partido União Democrática Nacional, a UDN, organizaram-se para desestabilizar seu governo. 

As pressões para que o presidente renunciasse levaram Vargas ao suicídio em agosto de 1954. A população foi informada da morte pelo rádio. O REPÓRTER ESSO da RÁDIO NACIONAL noticiou em edição extraordinária e a comoção tomou conta da população. As outras estações de rádio também transmitiram informações da tragédia e divulgaram o conteúdo da Carta-testamento deixada pelo Presidente. 

No Rio de Janeiro, o jornal ÚLTIMA HORA, que apoiava a política do presidente, foi o primeiro a circular com a notícia em duas edições extras no mesmo dia. O jornal destacava a manchete: “O Presidente Cumpriu A Palavra! "Só Morto Sairei Do Catete!"”. 

O JORNAL DO BRASIL destacou o fato de maneira mais comedida: 
“Selou com o sacrifício de sua própria vida o drama com que vinha lutando nos últimos dias, deixando, conforme acreditava, "o legado de sua morte", para que se pudesse fazer ao morto uma parte da justiça que o povo reclamou” (...) 

O jornal O DIA declarou em suas páginas que “Vargas era um autêntico estadista, dotado de espírito público invulgar, com a cultura política necessária ao exercício da sua missão”

Os jornais O GLOBO e a TRIBUNA DA IMPRENSA eram tradicionais ferrenhos inimigos de Vargas. Entre 1950 e 1954, eles vinham fazendo intensa oposição ao presidente. Naquela manhã, suas sedes, na cidade do Rio de Janeiro, foram atacadas por populares, incluindo a RÁDIO GLOBO. A população também correu às bancas e destruiu exemplares dos jornais daquele dia. O GLOBO e a TRIBUNA DA IMPRENSA tiveram dificuldade para circular e foram protegidos pela polícia.

Texto: Giovani Vieira
Apresentação: Jaqueline Casanova e Marina Fontanelli